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Você não é o amor da minha vida

  • pretinhaneves
  • 1 de out. de 2016
  • 3 min de leitura

Você jurou que ficaria. Mas eu sentia o fim.

Não foi a traição que nos separou, na verdade, foi um empurrãozinho. O fim já havia nos visitado antes disso. Traição é um ato desesperado, de quem sente urgência em acalmar a ausência de quem tinha o papel de estar presente, todos os dias. E as consequências podiam ser boas, eu poderia ter dado centenas de opções de como recomeçar.

Já havia visto pacotes de viagem pra Europa, lugares onde sinal de celular não funciona. Planejei decorar a casa com objetos que pudessem trazer uma sensação de quem se muda pela primeira vez. Procurei na internet quais eram as cores que dariam sorte para um casal, que sabe-se lá aonde estavam tentando chegar. Pesquisei 20 dicas de como apimentar uma relação-desgastada-que-não-merece-acabar.

Nós prometemos tentar. Por nós. Só mais uma vez. Mas não adiantou. O fim já havia suspirado no pé do meu ouvido, sussurrou baixinho em sinal de alerta “tô chegando”. O cérebro já estava processando a informação, o coração… tadinho. Não entende nem quando desenhado. É que doía só de imaginar sua partida.

Dei tempo ao tempo.

Você se foi. Confesso que não foi fácil a digestão, tive que engolir aos poucos e com ajuda de doses pequenas de amor próprio, que eu merecia muito mais do que escolher o filtro certo pra felicidade, com fotos romanticamente legendadas. Eu devia sorrir mais.

Seu nome na minha boca era um vício. Foi difícil desacostumar ao que eu já estava acostumada. Eu tive que lidar com a angústia de lembrar de você até quando eu não queria, e me auto convencer de que isso é uma das consequências do fim. O estrago tava feito. Me remendei em band-aids coloridos, pra disfarçar a ferida que parecia ser incurável. Tentei me esconder em ares diferentes, em corpos esguios e bocas carnudas.

Eu fiz força pra te esquecer. Acredite. De maneiras mirabolantes e incansáveis. Eu só queria, desesperadamente, não ter que chorar cada vez tocava nossa música no rádio. Queria parar de arrumar desculpas esfarrapadas, só pra achar um jeito de ter assunto com você. Queria ter tido coragem de ter batido a porta por completo, em vez de deixá-la entreaberta. Queria desatar todo nó que nos afastava e fazer deles laços frouxos que nos aproximassem.

Quando eu te pedi pra não me procurar mais, eu estava te pedindo pra me bajular. Porque eu ficaria, se você pedisse. Eu queria te mostrar que eu ainda era o amor da sua vida. Você recuou, da forma mais covarde e cruel. Eu não sabia que seria assim, mas você decidiu fazer jus a sua diversão.

Mais uma vez, dei tempo ao tempo.

O clichê “tudo passa”, chegou.

Não precisei surtar e explodir os relógios. Eu não disfarço mais, toda vez que tocam no seu nome perto de mim. Eu realmente não me importo. De tanto que eu treinei não te amar mais, ainda que insuportável, meu coração embalsamado se agarrou na beiradinha da esperança e implorou que parasse de apanhar. Não dói mais. E que alívio. Te levo em memórias despretensiosas, com a certeza de que nós tentamos.

Fim. A porta fechou. Os band-aids caíram. Os nós viraram laços. Laços enfeitando um novo amor.

Não adianta me procurar. Não adianta paralisar no tempo, observando seu celular, esperando que ele toque. Eu não vou te ligar. Talvez a gente se cruze em algum texto bonito meu, mas não falarei sobre você. Nem sobre saudade. Talvez, sobre finais tristes que viram começos felizes.

Eu não te culpo de nada. Simplesmente porque o amor não faz sentido, não entende a dúvida. Sentimentos puros acabam. Aquela sensação de que podíamos ter ficados juntos um pouco mais, também se foi.

Você não é o amor da minha vida. Se fosse, não teríamos perdido tanto tempo tentando. Perderíamos tempo, sendo.

Um texto de Ana da Mata

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